Commodities agrícolas caem forte com pressão da variante delta e petróleo em queda
O início da tarde desta segunda-feira (19) é de baixas de mais de 5% para o petróleo tanto no WTI, quanto para o brent, fato que ajuda a pressionar todas as commodities na carona. Os grãos, que mais cedo subiam em função do clima adverso nos EUA, passaram a acompanhar as perdas generalizadas e, por volta de 12h50 (horário de Brasília), perdiam mais de mais de 13 pontos nas principais posições da soja e pouco mais de 3 pontos no milho. Assim, o vencimento novembro da oleaginosa tinha US$ 13,79 - tendo trabalhado acima dos US$ 14,00 na manhã de hoje - e o dezembro no cereal tinha US$ 5,49 por bushel.
"Eu acho que essa pressão é muito curta porque os fundamentos são muito fortes. O trigo está se sustentando porque tem problemas nos EUA, na Rússia, no Leste Europeu, na China e agora também no Paraná, que pode fazer o Brasil ter que importar mais trigo do que o que se esperava. Soja e milho foram levados pela onda das liquidações dos investidores, mas também não são produtos que vão seguir na linha da baixa porque nada mudou no clima americano, que não está favorável", explica Vlamir Brandalizze, consultor de mercado da Brandalizze Consulting.
E o dólar em alta no Brasil também se torna um fator negativo para os preços em Chicago, ainda segundo o consultor.
Assim, recuavam além dos grãos em Chicago, os futuros do óleo de soja, com perdas de mais de 3,5% entre as posições mais negociadas, além das soft commodities negociadas na Bolsa de Nova York, com perdas que superavam os 3% no açúcar, no café e no algodão.
VARIANTE DELTA
Além da pressão do dólar, a segunda-feira é também de forte aversão ao risco no mercado financeiro diante das preocupações sobre a retomada da economia mundial em função do que vem causando a variante Delta do coronavírus. Por conta deste fator, não cedem somente as commodities, mas todos os índices acionários mundo a fora.
De acordo com analistas internacionais, o temor da necessidade de novos lockdowns e medidas mais incisivas de isolamento social por conta da variante promove uma derrocada geral de ações de empresas dos mais diversos setores - energia, financeiro, matérias-primas, serviços. O movimento acaba resultando em um reajuste de posições e uma fuga dos investidores para ativos mais seguros, menos arriscados, comoo dólar.
No início da tarde de hoje, o dólar index subia 0,15%, depois de já ter registrado ganhos bem mais intensos. O dólar comercial também subia forte e somente frente ao real a alta era de quase 2% para voltar a R$ 5,20.
A variante Delta tem preocupado mais em partes da Ásia, Inglaterra e Estados Unidos, onde o número de casos confirmados de infecção subiu 70% nos últimos dias.
Ainda segundo analistas internacionais ouvidos pela Bloomberg, a recuperação da economia global pode ter encontrado um limite na velocidade em que vinha ocorrendo.
"O pico de crescimento está começando a se tornar um elemento mais preocupante. Este é realmente um dos elementos que nos impulsionou a reduzir a alocação em ativos de risco em nosso movimento global. Você tem inflação, mas também tem esse elemento de crescimento", explicou Frank Benzimra, chefe de estratégia de ações da Ásia na Societe Generale SA à agência internacional de notícias.
ACORDO NA OPEP E BAIXAS NO PETRÓLEO
Depois de semanas de discussão e embate, a OPEP (Organização dos Países Produtores e Exportadores de Petróleo) chegou a um consenso de aumento na produção da commodity de cerca de 400 mil barris por dia para cobrir o gap do início da pandemia de 5,8 milhões de barris devido à redução na oferta diante de uma brusca queda da demanda. O aumento já se dará a partir de agosto.
INFLAÇÃO NOS EUA
A inflação nos Estados Unidos alcança suas máximas em 30 anos e o Federal Reserve (o banco central norte-americano) tem mantido sua política expansionista mesmo assim, cenário que também está no radar dos investidores e que causa também bastante preocupação e cautela.
"O Fed sinaliza busca pelo pleno emprego, mas as recentes falar dos seus dirigentes já não mostram mais a mesma convicção de um mês atrás, e isso gera incerteza ao mercado. E quando os investidores perdem a visibilidade, acabam buscando ativos seguros, como o dólar, como visto na sessão de hoje. Portanto, a volta das incertezas globais pressiona os ativos de risco e deixa os investidores 'perdidos'", explica Eduardo Vanin, analista de mercado da Agrinvest Commodities.
O QUE ESPERAR DOS MERCADOS?
Entre os analistas internacionais há divergências sobre o futuros dos mercado versus o comportamento das variantes e os desdobramentos da pandemia do coronavírus. Se de um lado alguns acreditam que o pico de recuperação foi alcançado, de outro, uma corrente de estrategistas acredita que essa é a volatlidade natural de períodos como estes.
"Embora as condições macro permaneçam em geral favoráveis às ações, as avaliações, as tendências sazonais e o posicionamento deixam espaço para correções de preços e picos de volatilidade como o que vemos hoje", acredita Antonio Cavarero, chefe de investimentos da Generali Insurance Asset Management, também em entrevista à Bloomberg.
De outro lado, o chefe de mercados emergentes e estrategista-chefe global do Morgan Stanley Investment Management, Ruchir Sharma, afirma à agência internacional que, de fato, as expectativas de crescimento possam ser muito altas, o que traz certa preocupação aos mercados, que além das questões da pandemia e da inflação norte-americana - e global - ainda estão pressionados pelas incertezas sobre as relações entre China e Estados Unidos.
Já na análise do Deutsche Bank entra também o aumento dos preços de diversos itens contendo a demanda do consumidor em diversas economias. "Isso é parte de uma cicatriz pós-Covid mais ampla; também é parte da destruição da demanda por gargalo. Isso é o oposto do que se esperaria se o ambiente fosse genuinamente inflacionário. Isso mostra que a economia global tem um limite de velocidade muito baixo", explica George Saravelos, representante do banco internacional, em nota.
Por:
Carla Mendes
Fonte:
Notícias Agrícolas
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