Brasil e Rússia querem ampliar comércio agro
O presidente Jair Bolsonaro está na Rússia e já se encontrou com o presidente Vladimir Putin. Na pauta interesses brasileiros, especialmente no agronegócio. A viagem ocorre em meio às tensões entre Rússica e Ucrânia, que não foram abordadas pelos dois líderes. O encontro durou cerca de duas horas nesta quarta-feira (16).
A Rússia responde por apenas 0,6% ou US$ 1,7 bilhão das exportações brasileiras, sendo a soja o principal além de café, açúcar, carnes e outros grãos como trigo e milho. Essa foi a menor participação em pelo menos duas décadas. O mercado já foi bem maior. Há duas décadas, os russos eram os maiores compradores de carnes, especialmente suína, do Brasil. O posto, porém, foi minguando conforme os russos trabalharam por sua autossuficiência. Especialistas avaliam que há muitas oportunidades a serem exploradas pelo agronegócio brasileiro no país que tem 140 milhões de habitantes e está entre as dez maiores economias do mundo. Além da carne suína, frango e grãos podem ganhar mais mercado.
Por outro lado, o Brasil é um grande comprador de fertilizantes daquele país. Cerca de 60% (US$ 3,5 bilhões) dos US$ 5,6 bilhões que o Brasil importou dos russos em 2021 foi desses produtos, de acordo com os dados oficiais da balança comercial brasileira.
A visita oficial também incluiu uma reunião com empresários do setor de fertilizantes. A Rússia é a sede de duas das maiores produtoras de fertilizantes do planeta: a PhosAgro e a Uralkali. Ambas têm o Brasil como um dos principais clientes. O segundo maior acionista da PhosAgro, que vende fertilizantes fosfatados e amônia, é Vladimir Litvinenko, com 21% das ações da empresa. A PhosAgro é a oitava maior empresa de fertilizantes do mundo. Além dos negócios bilionários, Litvinenko é figura de notória influência na Rússia. Foi o organizador das campanhas de Vladimir Putin em 2000 e 2004. Como acadêmico e reitor da Universidade de Mineração de São Petersburgo, foi orientador da dissertação de Putin em 1996.
A PhosAgro tem dezenas de minas, plantas industriais e centros de distribuição na Rússia. Se apresenta como “a maior fabricante europeia de fertilizantes fosfatados e líder mundial na produção de rocha fosfática de alta qualidade”. No Brasil, tem sede em São Paulo.
A conversa de Bolsonaro com Putin, via direta com Litvinenko, é considerada fundamental para que o mercado brasileiro tente evitar as consequências de sanções, conflitos e quebra de fluxos de negócio na Rússia e na Europa. Putin também se reúne frequentemente com os principais executivos da Uralkali, nona maior do mundo no setor de fertilizantes.
Tereza Cristina, ministra da Agricultura que esteve na Rússia antes de Bolsonaro e só não participou da comitiva atual por estar com Covid-19, admitiu abertamente que Jair Bolsonaro iria pedir a Putin garantias de que a Rússia mantenha o fornecimento de fertilizantes e “mais investimentos” no setor. Há 15 dias, a ministra esteve na Rússia e visitou os quatro maiores fabricantes de fertilizantes, o que inclui a PhosAgro e Uralkali, reforçando o pedido de garantia de fornecimento. Tereza Cristina já se recuperou e está em viagem ao Irã.
O Brasil é bastante dependente também das importações de potássio da Belarus, outro país que está sob sanções das grandes potências. O fornecimento russo de fertilizantes poderia não ser interrompido, mas sanções impostas pelos Estados Unidos e pela União Europeia encareceriam e dificultariam o fornecimento internacional.
Esse convite para mais capital russo no Brasil já gera resultados. Recentemente, a Petrobras chegou a um acordo com o grupo russo Acron para a venda de sua fábrica de fertilizantes em Três Lagoas (MS). A UFN3 é uma unidade industrial de fertilizantes nitrogenados. A construção teve início em setembro de 2011, mas foi interrompida em dezembro de 2014. Após concluída, a unidade terá capacidade projetada de produção de ureia e amônia de 3.600 toneladas por dia e 2.200 toneladas por dia, respectivamente. A conclusão será de responsabilidade do comprador. O Portal Agrolink já havia anunciado a transação.
VEJA: Petrobras vende Unidade de Fertilizantes Nitrogenados
A safra 2022/2023 já sofre o impacto do aumento de preços no mercado global e está de olho em crises internacionais como a da Rússia e Ucrânia. Para diminuir a dependência externa de fertilizantes o governo colocou em curso um mapeamento geológico para descobrir novas jazidas de minerais necessários para a produção, como potássio e fósforo.
No Brasil, o uso de fertilizantes aumentou 3,5 vezes desde 1995, resultado da intensificação agrícola industrial no país. Cada hectare de terra arável é tratado com 163,7 kg de fertilizantes – uma quantidade bem elevada em comparação com a média mundial de 137,6kg e que torna o Brasil o quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo.
Fonte:
Por: AGROLINK -Eliza Maliszewski
Publicado em 17/02/2022 às 09:27h.
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